O que os gêmeos da Gucci e da Sunnei têm de idênticos e nem tanto
Na semana de moda de Milão, duas marcas apostam em casting inteiramente composto de irmãos gêmeos para falar sobre algumas ideias centrais na moda.
Para o retorno da Gucci à semana de moda de Milão, Alessandro Michele deu uma tarefa bastante desafiadora para seu diretor de casting: encontrar 64 gêmeos idênticos. É que o diretor criativo é filho de gêmeas idênticas e diz que essa duplicidade única o marcou de forma especial. No texto enviado à imprensa, ele conta que tem duas mães, Eralda e Giuliana. “Elas vivam no mesmo corpo. Vestiam-se e penteavam os cabelos da mesma maneira. Elas eram magicamente espelhadas. Uma multiplicou a outra. Esse era meu mundo, perfeitamente duplo e duplicado”, escreveu o estilista.
Não fica difícil entender porque ele e o amigo Jared Leto foram praticamente idênticos a um baile do Museu Metropolitano de Nova York. Nem o motivo por trás da mais recente coleção da casa italiana, desfilada quase toda aos pares ou em dupla. Não que todo mundo soubesse disso de cara. Foi só lá pelo final do desfile, quando a parede central que dividia o espaço subiu, que a plateia pôde entender o que estava rolando. Na sequência, os irmãos retornavam à passarela, cada um de um lado, para darem as mãos no centro e percorrerem toda sua extensão.
Os looks? Aquela miscelânea de referências, estilos e décadas que todo mundo já conhece – ainda que numa imagem um pouco mais contida, com foco extra para vestidos de festa à la Hollywood antiga e para a alfaiataria. Aliás, são os ternos e vestidos neles inspirados em preto, branco e cinza que se destacam no mix da Gucci. Alguns deles, lembram modelos históricos dos anos 1970, com cintos com fivelas metálicas marcando a cintura. Outros lembram o minimalismo sexy de Tom Ford nos anos 1990 – um estilo, aliás, que já se mostra como uma das principais tendências da estação.
Gucci.Foto: Divulgação
Gucci.Foto: Divulgação
Gucci.Foto: Divulgação
Cópias, repetições, autenticidade e exclusividade são conceitos antagônicos que estruturam o sistema da moda da qual conhecemos. Sim, é paradoxal, para dizer o mínimo. Ainda mais quando se leva em conta algumas ideias e ideais vociferados à torto e à direito atualmente, inclusive por grandes empresas do setor. Teve gente interpretando a duplicidade genética e estética dos modelos como uma metáfora para uma vida mais coletivamente em paz. Diz que os gêmeos têm um entendimento sobre o outro diferente, já que compartilham tudo desde sempre.
Pode até ser, mas não é para tanto. Até porque se seus conceitos de coletividade e comunidade são versões quase idênticas a você… Bom, talvez tenhamos um problema. Às vezes, uma boa coleção e roupas bonitas já bastam. Alessandro Michele, evidentemente, tem razões muito pessoais e válidas para abordar o tema criativamente e isso, por si só, já é um grande mérito.Em tempos de métricas para tudo, um pouco de pessoalidade vai bem.
Na Sunnei, o casting também foi geneticamente combinado. Do nada, uma pessoa levanta da plateia, para no meio da passarela, se ajeita e sai desfilando rumo a uma porta giratória. Quem sai do outro lado é um gêmeo daquela pessoa, com visual e atitude completamente diferente – apesar da similaridade física.
A garota ruiva, com camisa, short jeans e bota cowboy, se transforma numa versão futurista com look laranja e vermelho de regata, saia e calça. O garoto com moletom sem mangas e jeans vira num moço com camisa listrada verde e azul, com bermuda branca. Outra menina de camiseta preta e jeans sai como um casaco longo azul de golas e punhos de cetim.
A intenção dos estilistas Loris Messina e Simone Rizzo era explorar a ideia de alter ego. Ou, em termos mais coloquiais, aquela ideia de brincar com sua personalidade ou versões dela por meio da maneira como nos apresentamos – e, no caso, nos vestimos.
No fim, é tudo ao gosto do freguês. O que você faz com as suas roupas é (ou deveria ser) de livre e espontânea vontade. Se encaixar ou se destacar, você decide. E se for com um pouco de bom humor, personalidade e memórias, melhor ainda.
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