Vai para Buenos Aires? Leve este guia com você!

Passo a passo, ou melhor, de prato em prato, confira um roteiro guloso com as melhores dicas gastronômicas da capital argentina.





Comida é cultura. E Buenos Aires é o destino ideal para comprovar a tese! Com uma cena gastronômica efervescente combinada ao câmbio favorável, harmonizada com vinhos locais e, dizem as boas línguas, a melhor coquetelaria da América Latina, a cidade das parrillas, empanadas e alfajores oferece também uma Ásia estilosa, sanduíches obscenos, arroubos criativos e muito mais. Descubra aqui nossos 25 crushes na capital argentina:

Parrillas

É difícil reservar, as filas de espera são longas e nelas basicamente só se ouve português (mas com uma tacinha de espumante de cortesia nas mãos!). Dito isso, nada diminui o maravilhamento que é comer qualquer uma das partes de Aberdeen Angus e Hereford alimentados livremente com capim que passa pela melhor parrilla do mundo.

O Don Julio, atualmente 14º colocado no 50 Best Restaurants, faz e matura seus próprios cortes, que podem ser acompanhados por nada menos do que 14.000 rótulos de vinhos nacionais.

v\u00e1rios vinhos nas prateleiras

No Don Julio, a carne maturada na casa tem a companhia de 14 mil rótulos.Foto: Divulgação

Se a ideia for algo mais roots, sinta-se um local na icônica El Pobre Luis. Fundada por um uruguaio, a casa conquistou jogadores de futebol nos anos 1990 e segue honrando a fama com suas pamplonas (tipo de bife rolê) de boi, frango ou porco, recheadas com queijo, presunto, tomate, pimentão e pancetta.

Mais hipster, igualmente imperdível, La Carnicería revolucionou o cenário carnívoro em Buenos Aires. Do tutano que faz as vezes de manteiga, passando por vísceras e embutidos, até o t-bone grelhado ou a costela defumada, os jovens chefs Germán Sitz e Pedro Peña converteram o asado (churrasco) em pratos gastronômicos – e impecáveis.

Mesa posta com varios tipos de carne e acompanhamentos

La Carnicería oferece parrilla em grande estilo.Foto: Divulgação

Empanadas

A instituição argentina está a salvo no clássico El Sanjuanino. Assadas ou fritas, as empanadas de carne fazem sucesso desde os anos 1960 na Recoleta (Posadas 1515). As de queijo com cebola e de humita (creme de milho) também.

No Mengano, prepare-se para se lambuzar com o recheio que escorre da empanadas ultra-suculentas.Foto: Divulgação

Porém, para quem quiser tornar o quitute uma entrada inesquecível, as suculentas empanadas do Mengano nasceram para isso!

Ásia Porteña

Japão, Coreia, Filipinas e Índia ganham sotaque fortíssimo. Em especial quando se distanciam do Barrio Chino (a Liberdade portenha). Vai daí que Christina Sunae recorre ao receituário da avó para servir bola bola (bao recheado com porco, camarão e shitake), kaliskis (empanada folhada vegana) e a lula com ketchup de banana no filipino ApuNena.

bao no prato

Bao do ApunenaFoto: divulgação

De família conservadora, a coreana Marina Lis Ra, do NaNum, subverte tradições e se permite preparar ceviche de mexilhões com suco de kimchi e mesclar tteokbokki (“nhoques” de arroz) até com grana padano.

Já Mariano Ramón, à parte ser o chef preferido dos cozinheiros argentinos, colore sua cozinha com lembranças do sudeste asiático e de vivência na Índia. O pão de mandioca tem queijo de cabra e chutney de tomate, o macarrão frito de grão-de-bico vem com coalhada seca e chutney de ameixa, o curry de cordeiro, com especiarias locais e avelãs… Comer em seu Gran Dabbang é uma fiesta!

ambiente com teto cheio de lanternas chinesas e luz avermelhada

Niño Gordo: pan-asiático sob lanternas chinesas.Foto: Divulgação

A bem dizer, quando a talentosa dupla da Carnicería desce pro play, a brincadeira fica ainda mais festiva. Diante de bonecos de anime e games ou debaixo das lanternas chinesas do Niño Gordo, sabores do Japão, Tailândia, Vietnã, China, Coreia e Taiwan se expressam em pratos, drinques e sobremesas. Hit do menu, o katsu sando une shokupan (um brioche nipônico artesanal) e 10 centímetros de bife de chorizo de novilho maturado que, com a mesma textura e uma dose de maionese de tonkatsu, desmancham na boca. Aviso: a produção diária é limitada pela raridade do tenríssimo corte.

Sándwiches (sim, com acento!)

Falando em sublimar pães, nada é mais emblemático para os argentinos do que os sanduíches de miga. A versão clássica implica duas fatias finas e úmidas de miolo e, entre uma e outra, maionese, presunto e queijo. O lugar mais clássico para prová-la? A Dos Escudos, onde também há opções como peceto (um rosbife de lagarto), primavera (queijo, tomate, alface e ovo) e presunto cru com rúcula, entre outras.

Café Mishiguene: padaria, cozinha judaica e confeitaria.Foto: Divulgação

O legado também é honrado pelo novato e concorrido Café Mishiguene que, entre sua ampla proposta de padaria, cozinha judaica e confeitaria, traz o sabij (miga que derrete com homus, pepino, ovo, tomate e berinjela frita) e o pastrame (provavelmente o melhor de Buenos Aires com relish e mostarda).

Loucuras Comestíveis

Falando em Mishiguene, ou “louco” em iídiche, o primogênito de Tomás Kalika é uma ode modernosa a aromas sefarditas, asquenazes e do Oriente Médio. Com música judaica alta (inclusive performada pela brigada às sextas) e culinária para paladares de todas as religiões, tudo merece ser provado. Ok, o pastrame descolando do osso e o babaganoush mais sexy do mundo são os best-sellers, mas o meorav de mar (homus com polvo defumado e cebola confitada) é outro devaneio imperdível.

O chef Julio Martin Baez finaliza um prato no Julia.

O chef Julio Martin Baez finaliza um prato no Julia.Foto: Divulgação

Na toada da doidice, o passado como bioquímico de Julio Martin Baez lhe faz aliar ciência e fantasia como poucos. Assim, no seu “indie” Julia, ele cria molho putanesca com algas, noodles a partir de cogumelos e coquetel de camarões (ou lagostins) curados em koji (levedura do arroz).

Comfort de Charme

Sabe aquela comida de mãe como sua mãe não seria capaz de fazer? É mais ou menos o que três das mais midiáticas cozinheiras locais propõem. No Lokanta, última empreitada da ativista (e ativíssima) Narda Lepes, “receitas honestas de avós” com twist contemporâneo são servidas a qualquer hora do dia.

Ali, um dos pratos prediletos da chef é a suprema Maryland, que funde recuerdos da infância, milanesa de frango, creme de milho, batata palha e, ao invés de banana frita, em tartar, por influência da colega brasileira Janaina Rueda.

Julieta Oriol, em seu recém-inaugurado La Alacena Pastifício, leva os visitantes à Calábria, terra de sua avó. Na vitrine, massa fresca, molhos, pães, pastinhas, embutidos caseiros e outros aperitivos. Detrás dela, a brigada preparando cada item – para ser devorado in loco ou levado desde as 9h da manhã.

Olivia Saal, por sua vez, traz uma panificação de excelência, uma confeitaria gulosa e pratos joviais no movimentadésimo Oli Café. Conforta com biscuit de missô recheado com presunto cru e queijo e açucara com fatias de selva oli (variação lotada de dulce de leche do bolo floresta negra).

Tragos

balcao de bar com lanterna orientais

CôChinChina: drinques autorais em belo cenário.Foto: Divulgação

Pode até ser cafona falar em alta coquetelaria, no entanto, diante da criatividade e precisão de mixologistas como Inés de los Santos e Tato Giovanonni, não passa de sinal de respeito. Na dúvida, tire suas próprias conclusões no belíssimo balcão do CôChinChina ou sob a floricultura mais interessante da cidade, no Florería Atlántico. De preferência, com um La vida que me merezco (tequila, abacaxi e baunilha) no primeiro e um dos Negronis autorais no segundo.

Produto, produto, produto

peito de pato no prato

Peito de pato do Alo’s: aproveitamento total do ingrediente.Foto: Divulgação

O mantra de dez entre dez chefs não é apenas repetido, é materializado por Gabriel Oggero e Alejandro Féraud. No Crizia, Gaby investiga a fundo os 4 mil quilômetros de costa argentina para imperar no quesito frutos do mar, enquanto no Alo’s, o próprio Alo se vale de sua estancia e dos cultivos de vizinhos para explorar a integralidade dos ingredientes. Um belo exemplo é o pato que rende coxas confitadas na própria banha, ossos para caldos e peito perfeitamente assado. Mais: dá vida a massas delicadíssimas, croquetes e até a um choripán, cujo pão fofíssimo leva a gordura da ave e a linguiça, comme il faut, é enchida com tudo o que sobra.

Peso da tradição

Num casarão rosado, viveu por quase 70 anos um misto de armazém e bodegón. Seu fechamento, em 2018, comoveu a vizinhança, a ponto de Pablo Rivero (o mesmo dono do premiado Don Julio) recuperá-lo. Mantendo sua alma, Pablo converteu El Preferido de Palermo em um bastião do paladar portenho. Um lugar para desfrutar da charcutaria artesanal, da milanesa mais famosa da cidade e de sorvetes tão, mas tão aveludados, que parecem menos gelados do que os outros.

El Preferido de Palermo: a milanesa mais famosa de Buenos Aires.Foto: Divulgação

Outra esquina que marca a história gastronômica de Buenos Aires é a ocupada pelo Oviedo. Mais do que um restaurante, o ponto de Emilio Garip é uma escola de restauração: a elegância do serviço, a busca incessante por matéria-prima e equipamentos de qualidade, o primor da culinária, o respeito aos funcionários e, acima de tudo, a vocação para receber de seu anfitrião. Para uma simples tortilla ou para o mais fresco dos polvos, Garip terá sempre um vinho (dentre as mais de 23 mil garrafas de “alta gama” que possui) para recomendar e uma anedota para harmonizar.

Alfajores

Tradicionalmente, dois discos de massa doce unidos por um creme, como o dulce de leche. Não se saírem da cozinha inventiva de Pedro Bargero, no Chila. Lá, o snack com massa de alfarroba e recheio de morcilla e carne seca faz jus à vista para o modernoso Puerto Madero.

Las Flores: Alfajores sem glúten em meio ao verde.Foto: Divulgação

Em contrapartida, fiel aos originais alfajores de maisena, Chula Galvez parte da própria intolerância ao glúten para moldar os alfajorcitos mimosos servidos no Las Flores.

Ah, e antes de recorrer àqueles com nome de capital caribenha, repare em caixas elegantes com a logomarca dourada da Cachafaz. De maisena, mousse, chocolate branco ou ao leite são os mais práticos regalitos a se trazer!

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