Há cerca de um ano, alguns quadrados azuis com frases quase telegráficas em letras brancas começaram a aparecer e reaparecer nos stories de quem gosta e acompanha moda no Instagram. Hoje, o formato já é facilmente reconhecido, uma espécie de assinatura do perfil Style Not Com. A conta foi criada na metade de 2021 pelo georgiano Beka Gvishiani, 30 anos, um gestor de negócios transformado em designer e criador de conteúdo.
Porém podemos afirmar com considerável certeza de que parte do sucesso da página e de seu criador tem a ver com paixão. Desde criança, Beka se diz fascinado por moda – o que pude confirmar nos 40 minutos de conversa por Zoom que tivemos. O nome do perfil na rede social, aliás, vem daí: uma homenagem ao extinto site Style.com, uma espécie de meca e enciclopédia digital para amantes de desfiles. Além das críticas, eram os vídeos estrelados pelo jornalista Tim Blanks alguns dos seus conteúdos favoritos.
Em um ano, o Style Not Com cresceu meteoricamente – ultrapassando 50 mil seguidores até o fechamento desta matéria (em 04.08). A notoriedade também levou Beka às primeiras filas. Quando nos falamos, ele acabara de voltar de Marrakesh, no Marrocos, onde foi assistir à apresentação masculina da Saint Laurent, no meio de um deserto. “Tive que viajar por três dias e ir até a Polônia para conseguir um visto. Esse é o tanto que eu amo moda!” Desde que seus números começaram a aumentar, ele finalmente está realizando sonhos que tinha desde a infância, como ir à semana de alta-costura ou receber convites nominais para os maiores desfiles do mundo. E parece que é só o começo.
Me conta um pouco da sua vida, de onde você é, onde você mora atualmente…
Nasci na Geórgia, em uma cidade chamada Kutaisi, que é a segunda maior cidade do país depois da capital, Tbilisi, onde moro hoje. Cresci lá até entrar na universidade. Desde criança, sempre me interessei por revistas e jornais, independentemente do assunto: política, música, celebridades, artistas, negócios. Era muito feliz em colecionar esses itens, vivia olhando para eles para entender onde as imagens e os textos eram posicionados, eu adorava analisar os layouts. Sempre me interessei pelo visual, mas também adorava ler todos os textos.
E você estudou design ou jornalismo?
Não! Gestão de negócios (risos). Era meu sonho estudar jornalismo, mas, na Geórgia, os empregos que pagavam melhor eram em bancos e na área financeira. Minha família me deu total liberdade, me disse “faz o que você quiser”. No entanto, como todos meus amigos estavam fazendo economia, me senti sem muita saída. Até que, em dado momento, minha paixão em criar explodiu.
O Style Not Com é basicamente o que eu adoraria ler nas capas das revistas.
Quando foi seu primeiro contato com moda?
Quando tinha cerca de 17 ou 18 anos, vi pela primeira vez uma Vogue em uma banca de jornal. Eu ainda recebia mesada dos meus pais, mas ela custava uns 10 euros, o que na época era muito caro para uma pessoa que ainda estava na escola. A revista estava embalada, então não podia ver o que tinha dentro, o que me deixou ainda mais intrigado. Alguns dias depois, voltei lá e comprei. Já sabia que existia Vogue, Elle, Harper ‘s Bazaar, mas nunca tinha tido a chance de folheá-las. A sensação de abrir aquela revista pela primeira vez foi o que me trouxe até aqui.
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Você lembra qual edição foi?
Era uma Vogue Rússia, já que nós estávamos perto da Rússia e ela era a única disponível. Era uma edição de setembro, com a Anna Selezneva na capa. A partir daí, eu passava todos os dias na frente das bancas e comprava todas as revistas que eu podia. Até que descobri, pesquisando online, que existiam muito mais edições e lugares no mundo que faziam essas revistas. Pensei “eu tenho que ter todas elas!”. (risos) Naquele momento, todo o dinheiro que eu ganhava, usava comprando revistas na internet. Hoje, ainda tenho cerca de mil delas. Estou olhando para uma pilha de 200 agora. São edições que guardo, que eu trouxe para Tbilisi e que, até hoje, folheio para me inspirar.
Sinto que todo mundo na moda ama uma boa revista!
Sim! E eu acho que as edições circa 2008 eram as melhores. Não existia Instagram, então nós só tínhamos as revistas. Naquela época, também abri uma página no Tumblr só de capas e fiquei superpopular na Geórgia. O tempo passou, terminei meu curso de gestão de negócios, mas não queria trabalhar com finanças, então transferi meu mestrado para comunicação.
Quando foi seu primeiro trabalho com moda?
Comecei a trabalhar com marcas da Geórgia fazendo projetos especiais como freelancer. Eles me chamavam para ser o gerente de mídias sociais quando estavam lançando alguma coleção. Isso foi quando o Instagram estava bem no começo, uns dez anos atrás. Eu comecei na Anouki, uma etiqueta local, que até hoje é a mais famosa do país, com lojas ao redor do mundo todo. Eles faziam muito sucesso e eu tinha um papel importante nisso. Trabalhei lá por cinco anos. Depois, lancei uma agência criativa com um amigo, por meio da qual ajudamos grifes georgianas a criar conteúdo, mídias sociais, produção, campanhas, desfiles e tudo mais. A empresa ainda existe, mas meu amigo faz a maior parte do trabalho. É como se fosse meu segundo emprego.
Você planeja se mudar?
Claro!
Paris? (risos)
Sim, provavelmente no ano que vem. Todo mundo me fala para eu mudar pra lá, e também amo aquela cidade. Mas ainda estou pensando. Talvez possa ir para outro lugar da Europa.
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Como nasceu a ideia do Style Not Com?
Sinto muita falta dos vídeos do Style.com, então minha página é um pouco sobre nostalgia, porque ainda revisito o site e assisto vários vídeos. Mas também sinto bastante falta da Colette (famosa loja multimarcas de Paris que, assim como o site, encerrou suas atividades em 2017), então a cor que uso nos cards vem disso. Misturei as duas coisas em uma, a nostalgia com meu amor por capas e chamadas de revistas. O Style Not Com é basicamente o que eu adoraria ler em títulos nas capas. Eu resumo as informações para caber em uma chamada.
Você sente que há diferença em assistir presencialmente a desfiles do que vê-los online?
Há alguns desfiles que têm tantas emoções que você também as sente através da tela. Diria que nos da Balenciaga, alguns da Saint Laurent ou da Chanel por Karl Lagerfeld você realmente consegue sentir tudo. Quando ainda não era convidado, eu já amava e sentia todas aquelas emoções. Mas, quando você assiste presencialmente, há tantas coisas acontecendo atrás das câmeras que você não vê no vídeo. Como no desfile da Saint Laurent, que o filme foi gravado dois dias antes. Estar lá foi uma experiência completamente diferente. Então, sim, há muita diferença.
Você pretende colocar mais da sua visão e de suas opiniões nos posts ou quer manter tudo mais imparcial e direto?
Adoro dividir fatos, mas, com o passar do tempo, muita gente pediu para ler a minha opinião, então misturo os dois. Acabei de escrever uma matéria para a System Magazine, com descrições, fatos e também minha opinião sobre dez desfiles da semana de moda de Paris. Foi a primeira vez que fiz isso. Às vezes, as pessoas falam que eu sou positivo e vibrante na minha página, mas elas também me acham positivo demais. Bem, eu amo moda e eu estou vivendo muitas coisas pela primeira vez na minha vida. Então eu fico muito empolgado mesmo, e, até certo ponto, só vejo o lado bom de tudo. Depois de alguns dias, processo minhas emoções, mas já que escrevo durante o que estou vivendo, não tenho como esconder.
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Qual foi sua primeira semana de moda?
Foi a semana de moda masculina, em janeiro deste ano. Mas, como já trabalho com moda há dez anos, viajava para Paris para alguns desfiles e para a temporada de vendas. Eu conhecia algumas pessoas, então tive a sorte de assistir algumas apresentações antes do Style Not Com. Fui a desfiles da Chanel enquanto Karl ainda estava vivo, fui a dois da Balenciaga, três da Valentino, alguns da Dior. Eu estava em vários lugares, nas festas e tudo mais, mas também entrava escondido em algumas ou via desfiles com o nome de outras pessoas (risos). Isso não é mais um segredo! Agora que recebo convites com meu próprio nome é completamente diferente e maravilhoso.
Agora você é convidado para desfiles, viagens. Isso muda sua visão? Se você não gosta de alguma coisa, em algumas dessas experiências, você fala?
Como costumo descrever mais, conto mais fatos do que qualquer outra coisa. Em vários momentos, eu escrevo legendas mais opinativas nas fotos também. Teve um desfile da Louis Vuitton, em Marselha (França), em que várias pessoas me perguntaram o que eu tinha achado. Era minha primeira vez em um desfile da marca e na cidade, ou seja, muitas primeiras vezes ao mesmo tempo, então eu estava muito animado. No final, quando vi Nicolas Ghesquière, que é um dos maiores estilistas do nosso tempo, e lembrei tudo que ele já fez na indústria, não tinha como não ficar emocionado. E eu disse, na época, que essa não era minha coleção favorita da Louis Vuitton, e várias pessoas falaram que as roupas não eram usáveis.
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Você já contou em entrevistas que declinou de todas as parcerias na última estação. Como você se sente sobre isso agora?
Estou em negociação com algumas marcas. Em dado momento, a produção de conteúdo passou a ocupar tanto tempo que tive de estabelecer algumas prioridades. Já neguei alguns trabalhos na Geórgia, porque eles requerem tempo. Então, comecei a negociar com algumas empresas, não só pela parceria financeira, mas por me oferecerem informações exclusivas. Disse muitos nãos para ofertas que não tinham nada a ver com o meu Instagram. Quero manter tudo muito natural, então não aceito coisas que acho que não se conectam com meu público. Eu sou novo nisso, quero manter minha voz e minha independência o máximo de tempo possível. Ainda que existam algumas parcerias, não pretendo deixar que controlem meu conteúdo. Não quero ninguém controlando o que vou postar.
O que vem por aí no Style Not Com?
Essa é uma das perguntas que mais me fazem. Agora que estou mais confortável, quero colocar novas formas de conteúdo, bem lentamente. Comecei a postar alguns vídeos, o que é um passo novo para mim, mas, por ora, posso dizer que existem várias ofertas e parcerias animadoras vindo por aí, principalmente no ano que vem.