“Blonde”, sobre Marilyn Monroe, alterna verdade e ficção

Filme, que estreia nesta quarta-feira (28.09), na Netflix, parte de algumas das fotos mais icônicas da atriz e enfileira suas dores.





De cara, Ana de Armas sentiu que compreendia Marilyn Monroe, que ela interpreta em Blonde, de Andrew Dominik. “Você pode pensar que uma cubana não tem nada em comum com uma estadunidense. Mas temos mais do que você possa imaginar”, disse a atriz de 34 anos, em entrevista com a participação de ELLE, durante o Festival de Veneza, onde o longa concorreu ao Leão de Ouro e recebeu críticas por exibir apenas os sofrimentos da personagem, sendo acusado de fazer pornografia de sua dor. “Somos duas mulheres, temos a mesma idade, estamos na mesma indústria. A conexão foi imediata”, completou Ana de Armas.

Não que ela ache que ser uma estrela e símbolo sexual na década de 1950 seja exatamente o mesmo hoje. “Algumas coisas mudaram, outras, não”, disse. “Sinto que tenho poder de escolha. Decido o que quero fazer, o quanto quero me doar, o quanto quero manter privado. Acredito que sou dona do meu corpo.”


BLONDE | Trailer oficial | Netflix

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Marilyn Monroe não tinha o mesmo luxo. Nascida Norma Jeane em 1926, ela ajudou a criar a personagem que povoaria a imaginação de homens e mulheres na época e desde então. A produção tenta mostrar essa dualidade, além dos inúmeros traumas sofridos pela atriz. “Ela tentou muito ter agência (o que a teria ajudado a se defender). Mas não conseguiu. Era um momento diferente da indústria”, disse Ana de Armas. “E Norma também não conseguia impor limites. Não podia lidar com a rejeição. Precisava ser amada, resgatada, cuidada.”

A seguir, cinco fatos sobre Blonde, que estreia nesta quarta-feira (28.09) na Netflix:

Verdade ou ficção?
O longa-metragem é baseado no romance Blonde (2000), de Joyce Carol Oates. Norma Jeane é a menina de infância difícil, com uma mãe com problemas de saúde mental, e que interpreta uma personagem que ela mesma criou, Marilyn Monroe, a mulher mais desejada do mundo. Mas outros personagens não ganham seus nomes verdadeiros. O segundo marido da atriz é apenas “O ex-atleta” (Bobby Cannavale) – na vida real, o astro do beisebol Joe DiMaggio. O terceiro é “O dramaturgo” (Adrien Brody) – ou Arthur Miller. John Kennedy é apenas “O presidente” (Caspar Phillipson). Ou seja, não se trata de uma cinebiografia fiel aos fatos, mas uma adaptação do livro, que, por sua vez, é uma interpretação do mito.

Adrien Brody como Arthur Miller e Ana de Armas como Marilyn em “Blonde”.


Sofrimentos
No longa, os traumas de infância de Norma Jeane, convivendo com uma mãe instável mentalmente, sem nunca conhecer o pai, afetaram sua vida até o final. Seu desejo de fama vinha de sua vontade de ser amada. Mas ela perde o controle sobre isso. Blonde enfileira uma série de dores, da objetificação aos abusos sexuais e físicos, passando por traições e diversos abortos espontâneos e induzidos, culminando no uso de barbitúricos que terminou por matá-la, de overdose, em 1962, quando tinha apenas 36 anos. É praticamente um filme de terror, que mistura, no entanto, fatos e ficção.

Fotos icônicas
Marilyn foi uma das atrizes mais fotografadas de sua época. Ela foi modelo antes de despontar em Hollywood e tinha amizade com diversos fotógrafos. O diretor partiu então de algumas de suas imagens mais icônicas para criar grande parte das cenas, mostrando o que havia por trás daquelas fotos tão perfeitas. Por isso, Blonde alterna a cor e o preto-e-branco, de acordo com o retrato em que se baseou. Na famosa foto em que ela brinca com seu vestido esvoaçante, que documenta a cena de O Pecado mora ao lado (1955), o diretor vai abrindo enquadramento para expor uma centena de fotógrafos e milhares de homens descontrolados, monstruosos, à sua volta – estima-se que a multidão alcançava 5 mil pessoas.


A escolha de Ana de Armas
Dominik encontrou sua Norma Jeane em um filme de terror, Bata antes de entrar (2015), dirigido por Eli Roth. A atriz interpreta uma das duas mulheres que aparecem na casa do e Keanu Reeves e estabelece com ele um jogo de sedução. “Foi como me apaixonar à primeira vista”, contou o diretor em entrevista com a participação de ELLE, em Veneza. Isso foi três anos antes de ela fazer o teste para Blonde, até porque, na época, ainda não dominava o inglês. Desde então, Ana de Armas esteve bastante ocupada, tendo participado de longas como Blade Runner 2049 (2017) e 007 – Sem tempo para morrer (2021).

A transformação em Marilyn Monroe
Ana de Armas tem cabelos castanhos, olhos verdes e não se parece muito com Marilyn Monroe. Mas, em alguns momentos do filme, ela está idêntica à atriz, graças ao trabalho de maquiagem e cabelo de Tina Roesler Kerwin (Top Gun: Maverick) e Jaime Leigh McIntosh (Não se preocupe, querida) que consumia até três horas diárias, dependendo da cena. Havia muitas informações sobre os segredos de beleza e as marcas favoritas de Marilyn, e a equipe conseguiu encontrar versões modernas de seus batons. Jennifer Johnson (Eu, Tonya, de 2017) ficou encarregada de recriar nos mínimos detalhes os figurinos da atriz, incluindo o famoso vestido pink com luvas que ela veste em Os homens preferem as loiras (1953). No total, foram cerca de 100 trocas só para Ana de Armas. A figurinista precisou também pensar que certas roupas apareceriam em cores em Blonde, e outras, em preto e branco.

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