Botox ou amarrar o próprio tênis?
O que é envelhecer bem, afinal? A boa notícia: você não precisa escolher entre duas opções para encontrar a resposta.
Nunca se falou tanto sobre envelhecer bem.
Tem a turma que defende a aparência e faz de tudo para manter o rosto e o corpo “jovens”, mas sem se preocupar tanto com a saúde. Tem a oposição que não admite nenhuma intervenção estética e foca só no físico e mental. E, claro, tem a famosa turma do meio, que costuma pinçar um pouco dos dois lados. Mas, envelhecer bem vai além de direita, esquerda ou centrão. É um direito de todos e cabe a cada um eleger o que é melhor para si.
Mas, antes de tudo, é importante questionar: afinal, o que é envelhecer bem? Essa não é uma pergunta tão simples de ser respondida. Exatamente como para os eleitores, para cada pessoa “envelhecer bem ou mal” significa uma coisa diferente. E mais. Dependendo da idade e da situação em que nos encontramos, mudamos de opinião. Quantas de nós já não fomos de esquerda, depois viramos de direita ou vice-versa?
Nós, aqui do SHEt, já passamos por isso. Na adolescência, não pensávamos muito nem sobre aparência nem sobre saúde. A juventude nos garantia tudo. Pele boa e saúde perfeita. Aos 30, 40 anos, nossa tendência foi mais para o lado estético de conseguir o corpo que queríamos colocando peito (Camila) e iniciando procedimentos como botox (Fernanda), para garantir o máximo que podíamos da sonhada juventude eterna (e que, feita sem moderação, vira uma luta insana contra o tempo). Já, aos quase 50, apesar de continuarmos querendo envelhecer com a aparência boa (tem gente que não liga para isso e tudo bem também), sabemos que cada idade tem sua beleza, não estamos dispostas a tudo para parecer jovens e nos preocupamos mais com uma qualidade de vida que nos permita amarrar sozinhas nosso próprio tênis aos 80, 90 anos. Interessante como os valores vão mudando à medida que envelhecemos.
Mas, voltando à pergunta inicial, quem define o que é envelhecer bem? De uma maneira geral, seria o processo de estar saudável e ativo, considerando-se as dimensões física, cognitiva e social. Até aí, tudo bem. Mas, e quando se tem tudo isso e a pessoa envelhece mal de cabeça, infeliz, deprimida, sem satisfação ou motivação para se cuidar, simplesmente porque o tempo passou? Podemos dizer que ela envelheceu bem? Aparentemente, não.
Na sociedade machista e patriarcal que vivemos, principalmente para as mulheres, o emaranhado de demandas a que somos submetidas para nos mantermos sempre jovens, acaba tendo um peso tão grande sobre nós que acabamos adoecendo por causa da pressão estética. Muitas são as mulheres que acabam, de fato, doentes por causa do alto nível de estresse que desenvolveram por se preocuparem demais com a aparência. Sim, é uma realidade.
Por isso, precisamos mudar o jeito que pensamos o envelhecer. Entender que esse é um processo que dura a vida toda. Não se trata apenas de uma fase que começa em determinada idade e que só tem a ver com aparência ou saúde. Um não exclui o outro. Está tudo interligado porque somos físico, mental e espiritual ao mesmo tempo. Envelhecer é um processo abrangente e com muitas variáveis subjetivas, e tentar julgar se uma pessoa envelheceu bem ou não, mesmo não sendo por mal, acaba sendo um erro.
Para a Organização das Nações Unidas (ONU), o ser idoso difere entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento. Nos primeiros, são consideradas idosas as pessoas com 65 anos ou mais, enquanto nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, são idosos aqueles com 60 anos ou mais. Outro erro que costumamos fazer é achar que viver muito é viver bem. Segundo dados da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), 65% das pessoas acima de 60 anos são hipertensas e, também, são as que mais sofrem com depressão, o que está ligado à perda de relações familiares e sociais e o sentimento de inutilidade, além da deterioração da saúde geral. Outro estudo, da Escola de Medicina de Yale (EUA), demonstrou que cultivar crenças positivas em relação ao envelhecimento, como de ser uma fase de crescimento pessoal e felicidade, ajuda a reduzir o risco de demência em idosos com mais de 60 anos, mesmo aqueles com predisposição genética para a doença. Por isso, é importante combater a discriminação pela idade, também chamada de idadismo ou ageísmo.
Então, se eleger cuidar da aparência ou da saúde por si só não garante que uma pessoa esteja envelhecendo bem, o que será que garante? Não temos a resposta, mas temos um palpite: o equilíbrio entre o que se vê por fora e o que se tem por dentro, sem deixar de se levar em conta a prioridade de cada um, claro.
Você é da turma que prefere gastar mais dinheiro com bioestimulador do que com academia? Tudo bem. Mas que tal dar uma compensada caminhando no parque para fortalecer seu cardio? Ah, você é o oposto e prefere nadar para garantir articulações e músculos mais saudáveis? Tudo bem também. Mas não esqueça de cuidar da pele passando o protetor solar. Saúde não é como urna que a gente precisa escolher entre uma coisa ou outra. Aproveite que as eleições estão chegando e vote em você.
Aperte “liberdade de escolha” e confirme.
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