Por trás de cada tênis icônico, há uma história ainda melhor

Elencamos os cinco modelos que tornaram os sapatos esportivos símbolos incontornáveis da moda contemporânea.





Existem os usuários de tênis, aquelas pessoas que, bem, usam os tênis. Mas, um nível acima deles, estão os sneakerheads, os consumidores, colecionadores e revendedores frenéticos responsáveis por uma indústria que, de acordo com dados da Allied Market Research, atingirá tamanho de US$ 165 bilhões até 2030. A cultura em torno desses sapatos, porém, é uma potência. Colaborações são estratégias permanentes das grifes e sites como Hypebeast anunciam os lançamentos com histeria, colaborando para manter a máquina desse hype de orçamentos milionários.

Os motivos são fáceis de rastrear. Calçar um par no ambiente de trabalho, por exemplo, já não é motivo de reprovação do olhar alheio. As mulheres, por sua vez, entraram no jogo para tornar os calçados, símbolos esportivos de outrora, objetos de desejo para além da função primária de peças para performance. Claro que nem sempre foi assim e há pioneiros.

Relembramos aqui os tênis que, muito antes do estardalhaço dos dias de hoje, mudaram o roteiro, redesenharam o mercado e consolidaram suas reputações de desenhos incontornáveis da moda contemporânea.

Chuck Taylor All Star, da Converse

Convidada usa modelo Chuck Taylor, da Converse, durante a semana de moda de Berlim, em setembro de 2022.Foto: Jeremy Moeller/Getty Images

1917 foi um ano improvável para iniciar uma história de sucesso. É que, enquanto a Primeira Guerra Mundial ainda se desenrolava, a pandemia da gripe espanhola se tornava iminente. Os ventos favoráveis do mercado não sopravam e as oportunidades comerciais eram menores ainda. Foi nesse contexto que o All Star nasceu. Quando não havia nenhum calçado associado especificamente ao basquete, o tênis da Converse, feito de lona e borracha, foi o primeiro produzido em massa para o esporte.

O seu avanço se deu algum tempo depois, no início da década de 1930. Na época, o jogador Chuck Taylor adotou o modelo e gostou tanto ao ponto de se juntar ao time da marca, viajando pelos Estados Unidos para promover a invenção. O modelo se transformou em símbolo onipresente no mercado de calçados. Das subculturas musicais aos corredores de colégios, o tênis sempre estava lá. Praticamente inalterado por mais de um século, poucos itens passam imunes por tantos fluxos e refluxos da moda, mas o All Star se mantém como um deles.

Checkerboard Slip On, da Vans

Edição limitada do slip on Checkerboard, da Vans, lançado em julho em parceria com a butique italiana One Block Down.Divulgação

Criado em 1977, o slip on parecia o sapato perfeito para andar de skate. Era simples, possuía a sola waffle e proporcionava a aderência perfeita para estabilizar os pés sobre a prancha. A Vans já era um nome conhecido na cena californiana, contribuindo para que o design conquistasse os entusiastas da modalidade. Alguns anos depois, Steve Van Doren, o atual vice-presidente da marca e filho do fundador, notou que alguns skatistas estavam colorindo os seus tênis. Eles não haviam tido a mesma oportunidade de Tony Alva, o primeiro esportista patrocinado pela marca e que personalizou seu modelo.

Portanto, a Vans decidiu imprimir uma padronagem xadrez na parte superior da lona de seus slip on. Rapidamente, o famoso desenho quadriculado ultrapassou as pistas e foi introduzido à cultura pop, usado por Sean Penn no clássico filme Picardias Estudantis, lançado em 1982.

O legado da peça é fácil de observar, haja vista a quantidade enorme de reproduções feitas pelas grandes marcas do segmento. Quanto ao Checkerboard, esse padrão de “tabuleiro de damas” que tornou qualquer Vans inconfundível, fala mais alto do que qualquer logo conseguiria.

Samba, da Adidas

Skatista pratica modalidade “free line” com modelo Samba, da Adidas, em Berlim.Foto: Wolfram Steinberg/picture alliance via Getty Images

Se há um par de tênis que os artistas da indústria musical não se cansam é o Samba, da Adidas. De Frank Ocean a Harry Styles, todos são fãs do modelo. No entanto, antes de conquistá-los, a história da peça remonta a várias décadas. Em 1949, no mesmo ano em que a empresa foi oficialmente registrada, o fundador Adi Dassler se empenhava para criar calçados capazes de otimizar a performance dos atletas. No caso do Samba, a ideia inicial era direcionada aos jogadores de futebol, o que explica a sola de borracha que oferece a aderência perfeita.

Um ano após o lançamento, a Copa do Mundo de 1950 chegou ao Brasil. Como a Adidas planejava promover o tênis durante o campeonato, reza a lenda que tenha escolhido o nome em homenagem ao gênero musical do país. Embora o futebol tenha cimentado a popularidade, com o passar dos anos o modelo ultrapassou os limites dos campos, conquistou as ruas e passou a transitar pelos mais diferentes movimentos. Graças ao design simplificado, mesmo entre os naturais picos e quedas de atenção, sempre se manteve como um dos bestsellers da empresa.

Suede, da Puma

Campanha da Puma que homenageia seu modelo Suede clássico.Divulgação

Primeiro apelidado de Crack, depois, Clyde e ainda States, a peça finalmente ganhou o nome Suede. O modelo da Puma tem quase 60 anos de história e, antes de ser inventado, costumava ter duas opções de materiais, em lona ou couro. A camurça, por ser difícil de limpar, era considerada um tecido de luxo, reservada apenas para roupas e bolsas. Usá-la em um sapato era quase contraintuitivo. Entretanto, o fundador da marca, Rudi Dassler, preferiu o caminho aparentemente tortuoso.

Graças ao uso da camurça, o design se consolidou como um símbolo de inovação, criando uma espécie de aura cult em torno dele. Com o passar do tempo, ele pisou em tudo, dos pódios de campeonatos esportivos até as pistas de dança. Os bailarinos de break, aliás, no início dos anos 2000, ampliaram a demografia de consumidores do Suede, um feito que até então os estrategistas da Puma ainda não haviam alcançado. Em 2015, Rihanna reimaginou o modelo, adicionando uma sola tratorada em sua primeira ação como direção criativa da marca.

Air Force, da Nike

Convidado da semana de moda masculina de Paris usa, em junho de 2022, modelo Air Force, da Nike, em colaboração com a Louis Vuitton.Foto: Edward Berthelot/Getty Images

“Ar em uma caixa”. O slogan usado em sua campanha de lançamento não poderia ser mais simples. Na época, não havia alardes de marketing, nem conteúdos extravagantes, mas as poucas palavras foram suficientes para informar ao mundo uma novidade: o amortecimento à base de ar. Projetado em 1982 por Bruce Kilgore, o Air Force foi o primeiro tênis agraciado com a tecnologia da Nike. Embora seu ajuste macio e elástico fosse pensado para o basquete, rapidamente fez sucesso dentro e fora das quadras.

Músicas como Air Force Ones, lançada em 2022 pelo rapper Nelly, colaboraram para que o sapato se tornasse um símbolo da cultura popular. É graças a essa fusão, aliás, que o tênis alcançou o posto de mais vendido em toda a história da Nike, uma informação divulgada pela própria grife esportiva. Foi reinterpretado em parcerias, inclusive uma apoteótica desenhada pelo estilista Virgil Abloh, mas parece haver por parte da marca certa cautela para que o design não fique superexposto. Hoje, embora seja encontrado em diferentes cores, o clássico par na cor branca parece difícil de ser superado.

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