O que há por trás do show da Diesel e da nova abordagem criativa da Fendi
E mais: os desfiles de seis marcas brasileiras na semana de moda italiana.
A semana de moda de Milão começou oficialmente na terça-feira, 20.09, com presenças brasileiras ilustres. À convite da Brasil Eco Fashion Week, um evento de sustentabilidade paralelo ao evento italiano, seis marcas nacionais puderam se apresentar pela primeira vez fora do país. São elas: Ateliê Mão de Mãe, Catarina Mina, KF Branding, Libertees, Meninos Rei e Vestô.
Algumas delas optaram por reproduzir os desfiles que arrancaram aplausos fervorosos durante a última edição da São Paulo Fashion Week, em junho. Foi o caso de Céu e Júnior Rocha, da Meninos Rei, reapresentaram a coleção Meu Ori É Minha Voz, com seus ricos patchworks de tecidos estampados, volumes localizados e uma alfaiataria carregada de identidade, história e pertencimento. Já Vinicius Santana e Patrick Fortuna, da Ateliê Mão de Mãe, se inspiraram na planta Abre Caminho para levar um pouco do axé da Bahia para as passarelas italianas em novas modelagens e reedições de peças de coleções passadas.
Outros destaques foram a Catarina Mina que, em parceria com a cearense Olê Rendeiras, transformou o seu carro-chefe, as bolsas de crochê, em roupas leves e alongadas. E Maju de Araújo, que fez história mais uma vez ao ser a primeira modelo com síndrome de Down a desfilar no evento, com coleção da Libertees.
Falando em ineditismos ou, no caso, recordes, a Diesel foi, segundo Guinness World Records, a responsável por fazer a maior escultura inflável que se tem conhecimento. No centro da arena Allianz Cloud, a obra era composta por uma série de corpos entrelaçados, como numa orgia descontrolada e simbiótica. Pela segunda vez, o convite para o desfile foi um sex toy – desta vez, um plug anal de vidro azul.
E aqui vale um breve parênteses. Nesta estação, a Diesel abriu sua apresentação ao público. Os convites foram distribuídos no dia 01 de setembro e esgotaram em minutos. Foram uns 3 mil, sendo que outros 1.600 foram doados a estudantes de moda e uns 200 destinados a compradores, imprensa, influenciadores, celebridades e quem mais precisava ser agraciado.
Diesel.Foto: Getty Images
Voltando… Não é novidade que a Diesel é chegada numa comunicação carregada de sexualidade. Aliás, foi justamente isso que atraiu o atual diretor de criação Glenn Martens, ainda na sua adolescência, lá na Bélgica. Em entrevista para o Volume 08 da ELLE Brasil, ele contou como esse viés comportamental foi importante para sua formação e também como é algo que ele deseja reproduzir agora (vide suas campanhas recentes).
Para ele, a etiqueta italiana não é exatamente de luxo – pelo menos não no sentido de exclusividade e acesso. Pelo contrário. Glenn acredita e gostaria que a Diesel fosse amplamente distribuída, com várias linhas e níveis de produtos. O desfile de verão 2023, aliás, é bem dividido nesse sentido. Começa com o denim. Além de lavagens mil, das franjas, dos recortes e das modelagens do maxi ao mini, o que chama atenção são os vestidos com jeans tramado junto ao tule, com efeito devorê, e as malhas e tricôs feitos com o material.
Diesel.Foto: Getty Images
Diesel.Foto: Getty Images
Diesel.Foto: Getty Images
Em seguida, a coleção entra em mood utilitário, com uma série de jaquetas oversized e calças cargo, tudo bem amplo, com sobreposições ou construções que simulam elas. Na sequência, os ares esportivos ganham contornos pop com cores intensas e tecidos elásticos combinados a rendas em looks mais próximos ao corpo. E, por fim, peças felpudas (tudo jeans também) dão conta de uma tal vontade extravagante.
Do ponto de vista técnico e imagético, a coleção chega bem menos complexa e exuberante do que a passada, o inverno 2022. Sob um outro olhar mais estratégico, a apresentação hiperbólica se mostra bem calculada. A atenção da mídia especializada já estava pega, estava todo mundo acompanhando e a repercussão nas redes não foi pouco. O discurso “democrático”, de acesso ampliado ganha um novo tom, para além das campanhas e capilaridade de distribuição, com a “abertura” do desfile ao público. E o barulho que a coisa toda gerou também ajuda (e muito) os planos de Renzo Rosso, CEO do grupo Only The Brave, do qual a grife faz parte, de abrir o capital da empresa.
Fendi.Foto: Getty Images
Fendi.Foto: Getty Images
Na Fendi, o estilo do fim dos anos 1990 e começo dos 2000, que marcaram a celebração dos 25 anos da bolsa Baguette, na NYFW, segue influente na coleção de verão 2023. A diferença, aqui, é a sofisticação. Se o resort foi mais street, agora a imagem é um tanto mais comportada, com conjuntinhos de saia e blusa acetinadas, sobrepostos a camisas brancas, vestidos de tricô ou material texturizado e opções mídi com blusas de couro com estampa floral ou usados com versões mais opacas por baixo.
As calças cargo, que já começam a despontar como uma peça importante da estação, também marcam presença. Desestruturadas em tecidos acetinados, elas são combinadas a camisetas de tricô justas e decoradas com fivelas de Fs metálicos. Nos pés, botas e sandálias plataformas bem Y2K e nas mãos, ou nos ombros, versões da bolsa Peekaboo com alça de corrente (uma novidade!).
Aliás, falando em novidade, é importante mencionar a presença limitada de logos. Há tempos apostando em peças fortemente estampas com seus duplos Fs, a Fendi dá continuidade ao movimento visto na coleção masculina e se afasta de tais recursos já um tanto desgastados. No lugar, é visível uma vontade de aprimorar caimento, silhuetas, proporções e próprio design das peças para criar um denominador comum entre acessórios, prêt-à-porter e alta-costura. Mais do que isso, a abordagem de Kim Jones, atual diretor de criação, parece mais natural, menos hermética ou referencial. Suas roupas trazem um senso de realidade que parecia ausente de suas outras coleções, com mais possibilidades e versatilidade para cada item e para o conjunto completo.
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