Exercite a paciência com um pote de conserva

Veja como as conservas caseiras podem ajudar você a comer melhor, evitar o desperdício e a cultivar a paciência em tempos incertos.





Não adianta espernear, aumentar o fogo nem apelar para aparatos culinários hi-tech. Aquele pote de conserva caseira não vai ficar pronto antes da hora. Ele pede tempo, e não abre mão disso.

Convenhamos, é uma condição muito justa para um preparo que exige pouco e oferece tanto em troca. Os ingredientes são em conta: é o legume da estação, a fruta que está na safra, o vegetal que está fazendo aniversário na geladeira. Mais sal ou açúcar. Água. Vinagre, em alguns casos. Os vegetais podem ser picados em pedações ou até ir inteiros para o pote. O esforço é mínimo. Custa esperar um pouco?


“Acaba sendo uma terapia”, diz o chef Lucas Dante. “Basicamente, um teste de paciência, pois uma conserva não é consumida no mesmo dia [do preparo]”. No
Cepa, restaurante que comanda no Tatuapé, em São Paulo, Lucas faz conserva de escarola e berinjela, picles de quiabo tostado, de nabo e de rabanete. Receitas que demandam dias para chegar no ponto certo fazem parte da proposta da casa, que também fabrica os próprios curados, como pancetta e copa lombo.

Para quem está acostumado a hambúrguer pedido via telefone e macarrão instantâneo que fica pronto em três minutos, a ideia de esperar uma semana para comer um rabanete pode soar meio estapafúrdia. Mas é pura sabedoria culinária. Experimente perfumar um cuscuz marroquino com tirinhas de limão-siciliano bem curtido. Ou incrementar um sanduíche simplesinho de frios com fatias de picles caseiro de pepino (no dry martini também cai bem). O sal, a acidez e a textura desses ingredientes mudam tudo.

Picles, compotas e outros tipos de conservas alimentam a humanidade há milênios. Arqueólogos acreditam que já se fazia picles na Mesopotâmia em 2.400 a.C. Quem guarda tem, pregam os cozinheiros conscientes desde sempre, e as conservas foram o método encontrado para garantir comida na mesa quando a oferta de alimentos escasseava – por condições climáticas, pragas ou guerras. Até na descoberta de continentes elas tiveram papel fundamental: Cristóvão Colombo era muito zeloso com o estoque de picles de suas embarcações e, ainda que sem saber, pode ter livrado muito marujo do escorbuto, doença provocada por deficiência de vitamina C.


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